Dor de cabeça crônica diária: características e pontos de atenção
A cefaleia crônica diária (ou dor de cabeça primária) pode apresentar-se de três formas distintas: enxaqueca transformada; cefaleia tensional, e cefaleia diária persistente de início súbito.
A enxaqueca transformada consiste em quando os quadros de enxaqueca mudam de característica de crises esporádicas, e passam a ser como uma dor de cabeça contínua. É predominantemente unilateral – na maioria dos casos, sendo frontal ou fronto-temporal em mais da metade deles –, sendo observada do mesmo lado que ocorrem as crises. Uma das características da cronificação é que a cefaleia sofre, gradualmente, um aumento de frequência, durante meses ou anos.
A cefaleia do tipo tensional tem uma frequência mínima de 15 dias de dor por mês (180 dias por ano, durante seis meses), tendo sido excluídas quaisquer causas orgânicas ou estruturais para a cefaleia. A dor tem caráter de pressão ou aperto, intensidade leve a moderada (pode dificultar, mas não impedir as atividades), e não é agravada por atividade física. É bilateral na maioria dos casos, sendo as regiões posteriores da cabeça e do pescoço as mais frequentemente envolvidas.
Na cefaleia diária persistente de início súbito, os pacientes não têm história prévia de cefaleia tensional ou de enxaqueca, e não apresentam fatores precipitantes como trauma ou estresse. A dor é, em geral, mal definida, difusa, semelhante à pressão ou, ocasionalmente, pulsátil – parecida com as características da enxaqueca. Porém, ela é contínua desde o primeiro episódio.
Uma alta incidência de distúrbios do sono parece ocorrer nos pacientes com esses tipos de dores de cabeça crônica. O abuso de analgésicos também é uma forma comum, na tentativa desesperadora de cessar a dor. Podem manifestar depressão, ansiedade e distúrbios do sono, apresentar histórico familiar, bem como alcoolismo e/ ou abuso de drogas.
Mais de 95% dessas cefaleias não têm uma causa orgânica bem definida. Por isso não se acham as causas em tomografias do crânio ou ressonância magnética. Porém, a avaliação por esses métodos de imagem podem afastar outras causas referente aos 5% – principalmente nos casos súbitos e pessoas que nunca sentiram dor de cabeça acompanhada de outros sintomas, como vômitos, dor na nuca ou desmaio. Esses outros sintomas que acompanham são chamados de “red flags”, podendo significar um alerta de que não seja uma dor de cabeça benigna.
O tratamento da dor de cabeça crônica diária baseia-se na fundamentação do controle de qualquer dor crônica: de forma multidisciplinar e multifatorial. O uso de relaxantes musculares, antidepressivos (alguns tipos agem nos centros de controle de dor no cérebro) para dessensibilização central, prática de atividades físicas, psicoterapia, acupuntura, liberação miofascial (dor muscular) em alguns casos de cefaleia tensional, e acompanhamento com especialistas a longo prazo.
O reconhecimento de melhora é o controle da dor pelo período mínimo de seis meses após o início do tratamento.
Fonte: Carla Da Cunha Jevoux, Pedro Ferreira Moreira Filho, Jano Alves De Souza. CEFALEIA CRÔNICA DIÁRIA PRIMÁRIA – CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS. Arq Neuropsiquiatr 1998; 56 (1): 64-68